terça-feira, 7 de abril de 2020

A PEQUENA VIRTUDE DA ESPERANÇA


Basta a cada dia o seu cuidado. A esperança cristã, obrigando-nos a viver unicamente o dia de hoje, poupa-nos as decepções e os desânimos. 

Não nos embriaguemos com amanhãs; cumpramos tranquilamente o nosso dever hoje, que conhecemos, e saberemos cumprir o de amanhã, que ignoramos.

Basta a cada dia o seu cuidado. Basta-nos carregar o fardo de hoje, que foi feito à medida dos nossos ombros. O amanhã cuidará de si mesmo. Deus nos dará amanhã forças novas para enfrentarmos as novas dificuldades que hoje ignoramos.

Então Deus proíbe-nos de preparar esses amanhãs desconhecidos? De maneira nenhuma, pois os que não enxergam além do dia de hoje correm grande ruína. O Senhor nos proíbe apenas que nos inquietemos com o amanhã. A imprevidência é uma falta porque sacrifica o futuro ao presente; mas a inquietação não é um erro menos grave, pois sacrifica o presente ao futuro.

A inquietação é sempre prejudicial e geralmente ilusória. Quando nos prevenimos contra todos os males que julgamos possíveis, ou não acontece nada - e ficamos com as despesas por nossa conta -, ou acontece outra coisa que não prevíamos. "Os covardes - dizia Shakespeare - morrem muitas vezes antes de morrer."

A inquietação é desmoralizante: não afasta os males que se temem mas antecipa-os; aumenta as dificuldades; destrói o amor ao risco, sem o qual o homem perde toda a coragem. Lembremo-nos destas linhas tão simples e tão verdadeiras de Péguy: "Eu não gosto - diz Deus - daquele que especula com o amanhã. Não gosto daquele que sabe melhor do que Eu o que farei amanhã. Pensai no amanhã; mas não vos digo: calculai esse amanhã. Não sejais como o infeliz que dá voltas e se consome na cama para saber o que será o dia de amanhã. Sabei unicamente que esse amanhã de que sempre se fala é o dia que vai seguir a este, e que estará sob meu comando como todos os outros."

Cultivemos no lar a pequena virtude da esperança, que elevará o nosso olhar para Deus e nos tornará capazes de todas as coragens, pois nos livrará de todos os receios.
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Maria Sempre!
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FONTE: CHEVROT, Pe. Georges. As pequenas virtudes do larEditora Quadrante, 2015. Pg. 47-48.
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Sobre a obra: Georges Chevrot não necessita de apresentação ao leitor de língua portuguesa, acostumado a sucessivas edições de seus livros: Simão Pedro, o Sermão da montanha, etc. Nesta obra, o orador dos sermões quaresmais de Notre-Dame de Paris dá-nos a conhecer as palestras que proferiu na Rádio Luxemburgo, dirigidas às famílias reunidas na intimidade do lar. Uma a uma, vão-se retratando, na linguagem simples de um colóquio entre amigos, algumas das principais virtudes que se encontram na base do relacionamento. São verdades simples e exigentes como todas as do Evangelho, e, como as do Evangelho, acessíveis e eficazes para quem se disponha a ter ouvidos para ouvir. Não seria um elemento de coesão e de paz que todos os que vivem debaixo do mesmo teto se esforçassem por ser corteses e agradecidos, bem-humorados e benevolentes, sinceros e pacientes, pontuais e perseverantes? Estas “pequenas” virtudes são grandes virtudes. Elas bastam para converter a vida diária de uma família em algo atraente e amável, que realiza os pais e encaminha os filhos. Pode-se conseguir esse ambiente? As presentes reflexões mostram que sim. “Mas isso seria o paraíso na terra! – Não há dúvida de que sim, e desejo de todo o coração que se faça a experiência”, convida o Autor. A vida de família compõe-se de evento sem história, mas é com eles – quando entrançados nessas “pequenas virtudes” – que se faz a História.
Editora Quadrante 

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