sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A PRUDÊNCIA




I. PRUDÊNCIA: O QUE É, E O QUE NÃO É

1. O que não é.

Muitas pessoas têm uma visão míope: reduzem a prudência à simples “cautela”. O cuidado para evitar um mal – a cautela – é algumas vezes um aspecto da virtude da prudência; mas muitas outras é exatamente o oposto dessa virtude. Repare que as duas principais palavras que expressam a CAUTELA são negativas: “cuidado” e “não”.

• Tome cuidado ao atravessar a rua.
• Não saia sozinha à noite.
• Não confie nesse seu sócio.
• Não arrisque a comprar uma moto.
• Não exagere nas doações e caridades, que eles acabam abusando.
• Cuidado com o que posta no facebook.
• Cuidado com tantas idas à igreja, que vai virar carola. 

Nessa sinfonia cacofônica de “cuidado” e “não”, algumas frases merecem o nome de prudência, mas outras não. Ora, repare que, nem uma só delas, nem todas elas em conjunto, são capazes de nos oferecer um ideal de vida. Não apontam para nenhuma realização, nenhuma conquista, nenhuma melhora, nenhuma perfeição. 
Ninguém se realiza na base de medos e cautelas. Por isso, o Catecismo da Igreja Católica afirma que a virtude da prudência "não se confunde com a timidez ou o medo" (n. 1806).




2. Então, o que é?

Veja como é clara a definição de prudência que nos dá o Catecismo:
"A prudência é a virtude que dispõe a razão prática a discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e a escolher os meios adequados para realizá-lo" (n. 1806). Grave bem essas palavras, que nos deverão ilustrar ao logo deste livro. E não perca de vista que a prudência visa principalmente realizações práticas, “a realização do verdadeiro bem”.
─ A definição começa dizendo que é uma virtude que tem como base a razão prática, não o raciocínio puramente teórico. A prudência, com efeito, visa à realização das ações sobre as quais temos que pensar e decidir, não à resolução de teoremas.
─ É uma virtude que leva a discernir, ou seja a conhecer e distinguir claramente – limpando confusões mentais − qual é a ação certa que se deve praticar.
─ Mas o discernimento da prudência tem um norte: o nosso verdadeiro bem, pois – como veremos adiante – pode haver objetivos errados e bens enganadores. Refere-se, portanto, ao bem moralmente objetivo. Um bem que tanto pode consistir na boa ação de ajudar uma velhinha a atravessar a rua, como no bom encaminhamento de um empreendimento comercial ou de uma entidade religiosa. Se não procurássemos o bem moral objetivo, a prudência se perderia num mato fechado onde o bem e o mal não se poderiam distinguir; seria como aquela "selva oscura" onde Dante se achava extraviado, porque "la diritta via era smarrita", porque tinha perdido o caminho reto.
─ Uma vez discernido o verdadeiro bem, a prudência leva, então, a escolher os meios adequados para realizá-lo. Como a prudência é prática, a pessoa, depois de dizer “quero fazer isso, pergunta-se “como vou fazê-lo”?
─ Finalmente, com os meios bem escolhidos, chega o momento de decidir-se a agir, a fazer. Em pouquíssimas palavras, Santo Tomás de Aquino, inspirando-se em Aristóteles, resume tudo isso dizendo: "A prudência é a regra certa da ação".


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Maria Sempre!
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FONTE: FAUS, Padre Francisco. A arte de decidir bem a virtude da prudênciaEd. Quadrante, 2017. Pg. 1-2.
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Sobre o autor: Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canônico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já
publicou na coleção Temas Cristãos, entre os títulos mais recentes, O homem bom e Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens.

2 comentários:

  1. Gostei. Esclarecedor. Então quer dizer que a prudência é fazer algo que é bom para nós e para os outros. Logo, usar a razão para discernir o que é a vontade de Deus e assim agir, afinal, somente a vontade de Deus é o que é bom para nós.

    Perfeito!!! Obrigada meninas, parabéns!

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