terça-feira, 5 de março de 2019

HISTÓRIA E RAZÃO DA PRÁTICA DO JEJUM


XXXIX SERMÃO

PRIMEIRO SERMÃO SOBRE A QUARESMA

1. História e razão da prática do jejum



A história sagrada conta que, outrora, o povo hebreu e todas as tribos de Israel, oprimidos por causa de seus pecados, sob a pesada dominação dos filisteus, para poder vencer seus inimigos, entregaram-se a um jejum que renovasse a fé e as forças de suas almas e de seus corpos. Eles compreenderam, com efeito, que o desprezo pelos mandamentos de Deus e os seus costumes corrompidos lhes tinham provocado esta dura e miserável escravidão e que combateriam inutilmente com as armas na mão se antes não abandonassem os seus vícios. Impuseram-se, portanto, a punição de severa penitência, abstendo-se do alimento e da bebida; e, para que pudessem vencer os inimigos, venceram primeiro neles mesmos, os apelos da gula. Deste modo, aconteceu que, realimentados, impuseram a fuga a seus adversários e aos senhores impiedosos que os haviam subjugado famintos. Nós, também, caríssimos, situados diante de muitas adversidades e combates, se usarmos os mesmos remédios, seremos curados pela mesma observância. Nossa situação é semelhante a deles: eles eram combatidos por violentos adversários materiais como nós o somos por adversários espirituais. Estes serão vencidos pela reformulação de nossos costumes, obtida com a ajuda de Deus, o que fará com que desapareça também a força de nossos inimigos materiais; eles serão enfraquecidos pela nossa conversão, porque se eles exerciam qualquer poder sobre nós, era devido às nossas faltas e não aos seus méritos.

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Maria Sempre! 
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FONTE: FRANGIOTTI, Roque. Patrística - Sermões Leão Magno. Ed. Paulus, 1996.

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Sobre a obra:  O valor dessas obras que agora Paulus Editora oferece ao público, pode ser avaliado neste texto: “Além de sua importância no ambiente eclesiástico, os Padres da Igreja ocupam lugar proeminente na literatura e, particularmente, na literatura greco-romana. São eles os últimos representantes da Antiguidade, cuja arte literária, não raras vezes, brilha nitidamente em suas obras, tendo influenciado todas as literaturas posteriores. Formados pelos melhores mestres da Antiguidade clássica, põem suas palavras e seus escritos a serviço do pensamento cristão. Se excetuarmos algumas obras retóricas de caráter apologético, oratório ou apuradamente epistolar, os Padres, por certo, não queriam ser, em primeira linha, literatos, e sim, arautos da doutrina e moral cristãs. A arte adquirida, não obstante, vem a ser para eles meio para alcançar este fim. (…) Há de se lhes aproximar o leitor com o coração aberto, cheio de boa vontade e bem disposto à verdade cristã. As obras dos Padres se lhe reverterão, assim, em fonte de luz, alegria e edificação espiritual” (B. Altaner; A.g Stuiber, Patrologia, S. Paulo, Paulus, 1988, pp. 21-22).
Ed . Paulus 

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