sexta-feira, 22 de novembro de 2019

DA FAMILIARIDADE COM JESUS




1. Quando Jesus está presente, tudo é suave e nada parece dificultoso; mas, quando Jesus está ausente, tudo se torna penoso. Quando Jesus não fala ao coração, nenhuma consolação tem valor; mas se Jesus fala uma só palavra, sentimos grande alívio. Porventura não se levantou logo Maria Madalena do lugar onde chorava, quando Marta lhe disse: O Mestre está aí e te chama? (Jo 11,28). Hora bendita, quando Jesus te chama das lágrimas para o gozo do espírito! Que seco e árido és sem Jesus! Que néscio e vão, se desejas outra coisa, fora de Jesus! Não será isto maior dano do que se perdesse o mundo inteiro?

2. Que te pode dar o mundo sem Jesus? Estar sem Jesus é terrível inferno, estar com Jesus é doce paraíso. Se Jesus estiver contigo, nenhum inimigo te pode ofender. Quem acha a Jesus acha precioso tesouro, ou, antes, o bem superior a todo bem; quem perde a Jesus perde muito mais do que se perdesse a todo o mundo. Paupérrimo é quem vive sem Jesus, e riquíssimo quem está bem com Jesus.

3. Grande arte é saber conversar com Jesus, e grande prudência conservá-lo consigo. Sê humilde e pacífico, e contigo estará Jesus; sê devoto e sossegado, e Jesus permanecerá contigo. Depressa podes afugentar a Jesus e perder a sua graça, se te inclinares às coisas exteriores; e se o afastas e o perdes, aonde irás e a quem buscarás por amigo? Sem amigo não podes viver, e se não for Jesus teu amigo acima de todos, estarás mui triste e desconsolado. Logo, loucamente procedes, se em qualquer outro confias e te alegras. Antes ter o mundo todo por adversário, que ofender a Jesus. Acima de todos os teus amigos seja, pois, Jesus amado dum modo especial.

4. Sê livre e puro no teu interior, sem apego a criatura alguma. É mister desprenderes-te de tudo e ofereceres a Deus um coração puro, se queres sossegar e ver como é suave o Senhor. E, com efeito, tal não conseguirás, se não fores prevenido e atraído por sua graça, de modo que, deixando e despedindo tudo mais, com ele só estejas unido. Pois, quando lhe assiste a graça de Deus, de tudo é capaz o homem; e quando ela se retira, logo fica pobre e fraco, como que abandonado aos castigos. Ainda assim, não deves desanimar nem desesperar, antes resignar-te na vontade de Deus, e sofrer tudo que te acontecer, por honra de Jesus; pois ao inverno sucede o verão, depois da noite volta o dia, e após a tempestade reina a bonança.

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Maria Sempre!
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FONTE: KEMPIS, Tomás de. Imitação de Cristo: Livro II, Cap. VIII. Ed. Ave Maria, 1928. pg. 67-69.
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Sobre a obra: Escrita durante a primeira metade do século XV, a Imitação de Cristo ocupa um lugar de destaque na literatura devocional cristã, sobretudo porque já fora lida e meditada por inúmeras gerações que desejavam o aprofundamento na vida interior. Trata-se de um verdadeiro testemunho de renovação espiritual numa época de hostilidade às coisas religiosas. Tal como as grandes obras que ultrapassam seu tempo, a Imitação de Cristo permanece entre as mais importantes e piedosas do catolicismo. Suas páginas inspiram à conversão interior para que, com um coração puro e com o auxílio da graça, seja possível compreender e, de modo especial, viver plenamente o Evangelho.

Sobre o autor: É comumente aceito que a Imitação de Cristo tenha sido escrita pelo monge e escritor alemão Tomás de Kempis. Ele nasceu em 1380, em Kempen, na Renânia do Norte (perto de Colônia), foi ordenado sacerdote em 1413 e faleceu no dia 24 de julho de 1471. Produziu diversos opúsculos que representam muito bem a literatura devocional, mas sua obra mais célebre é a Imitação de Cristo, composta por quatro partes, nas quais o autor apela a uma vida interior que segue o exemplo de Cristo, valorizando a Eucaristia como uma das formas mais eficazes para reforçar a fé.

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