sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

AS LÁGRIMAS E A VIDA ESPIRITUAL


Santa Catarina de Sena desejosa de conhecer mais sobre os estados da alma, sobre os quais Deus lhe falara, elevou seu pensamento à verdade suprema.

Notara que aqueles estados são percorridos em lágrimas; queria saber quais são as espécies de lágrimas, qual sua natureza, sua origem, suas características.

Conforme teu pedido, Deus explicou-a as espécies de lágrimas com suas características. 

As primeiras são próprias das pessoas que vivem em pecado mortal. As lágrimas brotam do coração; como aqui a fonte está corrompida, o pranto é pecaminoso e mau, bem como todas as demais atividades. 

As segundas lágrimas pertencem àqueles que começam a ter consciência dos próprios males e temem os castigos consequentes. Constitui o comum início de conversão, misericordiosamente concedido por Mim aos homens fracos e desorientados que vão se afogando pelo rio do pecado e desprezando a mensagem do Meu Filho. Infelizmente são numerosíssimos os pecadores que conscientes, sem nenhum temor, continuam no pecado. Alguns repentinamente sentem grande descontentamento de si mesmos e passam a considerarem-se dignos de castigos; outros, arrependem-se por terem Me ofendido e com bonomia se põem a servir-Me. De todos eles, certamente têm maior possibilidade de atingir a perfeição aqueles que se convertem com grande ardor; mas esforçando-se todos o conseguirão. Os primeiros terão de preocupar-se em não ficar no temor servil; os segundos, em não cair na tibieza. Trata-se de um acordar geral à santidade.


As terceiras lágrimas estão nas pessoas que superaram o temor servil e atingiram o amor e a esperança. Percebem que lhes perdoei, sentem favores e consolações. Para concordar com o coração, choram. Como são imperfeitas, conforme expliquei, trata-se de um pranto ao mesmo tempo sensível e espiritual. 

As quartas lágrimas acontecem com a prática das virtudes. Crescendo o desejo da alma, a pessoa se une e se conforma à Minha vontade; quer o que Eu quero, ama profundamente o próximo. É um pranto de amor por Mim e de dor pelos pecados e prejuízos sofridos pelo próximo. 

As quintas lágrimas, próprias da última perfeição, completam as anteriores. Em união com a verdade eterna, estes progridem muito no desejo santo. 

Por esse motivo, o demônio os teme e não consegue prejudicar-lhes a alma, seja com ofensas, pois são pacientes na caridade, seja com atrativos espirituais e materiais, por eles humildemente desprezados. 

Na verdade, o demônio não dorme jamais. Nisto ele até vos dá lições, vós que sois negligentes e dormis no tempo da messe. 

Mas sua vigilância não consegue prejudicar as pessoas que se acham no estado de união, pois ele não tolera o ardor da caridade e a união da alma Comigo. Quem vive em Mim, não pode ser enganado. O diabo evita os perfeitíssimos como o mosquito se afasta da panela que ferve, por medo do calor. Quando a panela se acha fria, o mosquito se engana e cai dentro, encontrando às vezes mais calor do que percebia. O mesmo acontece com os homens. Antes que eles cheguem à perfeição, o demônio os julga frios e atormenta com muitas tentações. Mas se neles houver um pouquinho de entendimento, de fervor e de desprezo pelo pecado, a vontade não consentirá. Alegrem-se aqueles que sofrem; esse é o caminho para se ir até o estado de união.

Já afirmei que o meio de se conquistar a perfeição está no conhecer-se e no conhecer-Me. Ora, se eu estiver na alma, não há ocasião mais oportuna para conhecer-se do que no tempo das contradições. Em que sentido? Vou explicar. 

Nas dificuldades, o homem tem mais consciência das próprias forças; compreende que somente conseguirá resistir e libertar-se das tentações se sua vontade for reta; vê que de si mesmo nada é, pois em caso contrário afastaria as tentações indesejáveis. O autoconhecimento, portanto, conduz à humildade e faz recorrer a Mim, Deus eterno, mediante a fé. A pessoa compreende que somente Eu dou a vontade reta, que não consente nas tentações e evita as insinuações más. 

Estais certos quando procurais vos fortalecer mediante a mensagem do Meu Filho, o amoroso Verbo encarnado, durante as provações, sofrimentos, adversidades e tentações. Tal atitude aumenta vossa virtude e vos ajuda a chegar à perfeição.

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Maria Sempre!
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FONTE: SENA, Santa Catarina de. O Diálogo. São Paulo: Paulus, 1984. Pg. 149-151.
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Sobre a autora: Santa Catarina de Sena é mãe e não filha do seu tempo. Era uma virgem convicta que fizera o voto de castidade desde a infância mas poucas mulheres possuíram como ela o sentimento de maternidade. O livro é o diálogo entre a `serva` e Deus Pai. Retrata a atualidade da mensagem de Catarina, seu pensamento, os principais pontos de sua doutrina política.

Editora Paulus 

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