segunda-feira, 29 de julho de 2019

DOS ESCRÚPULOS



1— Há algumas pessoas que olham o escrúpulo como uma virtude; pelo contrário é ele um defeito muito perigoso. Gerson, chanceler de Paris, diz que muitas vezes é mais nociva uma consciência escrupulosa, isto é, que se receia mais do que é preciso, do que uma consciência relaxada.

2 — O escrúpulo obscurece a alma, perturba a paz, produz a desconfiança; afasta dos sacramentos, altera a saúde e oprime o espírito. Quantos há que começaram pelo escrúpulo e acabaram pela loucura? Quantos há que começaram pelo escrúpulo e acabaram pela licença? É a observação de Santo Antônio, profundo teólogo e mestre da vida espiritual. Repeli, pois, este terrível veneno da piedade, e dizei como São José de Cupertino : "Eu não quero em minha casa nem escrúpulos nem tristeza".

3 — O escrúpulo consiste em ter-se um receio imaginário do pecado, não havendo motivo algum de receiar. O escrupoloso não considera as suas hesitações e receios como escrúpulos, mas  sim como coisas fundadas em boas razões. Deve, pois, acreditar que tais coisas são escrúpulos, quando o seu diretor lhe afirmar que o são.

4 — O escrupuloso não vê em sua consciência outra coisa que pecados, e em Deus só cólera e vingança. Deve pois meditar todos os dias naquele atributo que manifeste mais a sua misericórdia. Tal deve ser o objeto de seus pensamentos, reflexões e sentimentos.

5 — O único remédio para os escrúpulos é uma completa e firme obediência. São Francisco de Sales dizia que é o nosso secreto orgulho quem faz permanecer os escrúpulos, porque preferimos a nossa opinião a do nosso diretor. Obedecei, pois, conclui o santo, sem fazerdes outro raciocínio a não ser este — Eu devo obedecer, então sereis curados de tão horrorosa enfermidade.

6 — Esses que assim estão temerosos e inquietos fazem um grande mal a Deus; pois parece que com seus escrúpulos estão dizendo: É uma escravidão servir este Deus de amor e de bondade infinita.

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Maria Sempre! 
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FONTE : QUADRUPANI, Rev. Padre. Direção para viver cristãmente, Editora Salesiana. São Paulo, 1905. Pg. 129-132.

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Sobre a obra: As ações já boas de si mesmas, diz Santo Agostinho, tornam-se tanto mais virtuosas e dignas de elogio, quanto melhor forem coordenadas; porque sem ordem não há virtude. É por isso que vos apresentamos uma regra de vida, que abrange todos os deveres do homem para com Deus, para com seus semelhantes e para consigo mesmo. Lembrai-vos, porém, de que estas regras de proceder, dispostas para vossa direção, não obrigam sob pena do pecado, nem ainda venial; vede nelas uma direção e não um preceito. As cadeias são para os escravos, e não para os filhos de Deus; estes não conhecem outras prisões que as do amor e da Vontade Divina. Não é pelo temor dos castigos, mas pelo seu amor, que um filho afetuoso e reconhecido atrai as complacências de seu bom pai.
Rev . Padre Quadrupani

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