segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

IMACULADA CONCEIÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA





Que entendeis dizendo que Maria foi concebida sem pecado, ou, por outro modo, que vem a ser a sua conceição imaculada?

Entendo que, por um privilégio único, Maria foi concebida isenta da mácula do pecado original, da qual nascemos todos culpados, e que, desde o primeiro instante de sua existência, foi enriquecida com os tesouros das graça e adornada de todos os dons do Espírito Santo.

A conceição de Maria difere da dos outros homens sobretudo em dois pontos:

1) Foi a consequência de uma graça milagrosa concedida a seus piedosos pais, já velhos e naturalmente fora do período de terem filhos;

2) Foi perfeitamente pura e santa; por uma disposição especial da Providência e em vista do papel sublime que Maria devia desempenhar, esta santa Virgem foi isenta da mancha do pecado original.

Que é que valeu a Maria ser preservada da mancha original?

Sua qualidade de Mãe de Deus.

Efetivamente, de toda conveniência era que Maria, chamada à honra da maternidade divina, fosse sempre pura e imaculada. “A carne de Jesus sendo a carne de Maria”, segundo a expressão de Santo Agostinho, como admitir que o Salvador escolhesse, para formar seu corpo adorável, uma carne que tivesse sido manchada com as nódoas do pecado?

Quando Deus mandou construir o tabernáculo e, mais tarde, o templo de Salomão, deu as prescrições mais minuciosas para que tudo se fizesse numa ordem perfeita, para que a beleza e a riqueza das partes correspondessem à perfeição do conjunto; podia então permitir que Maria, destinada a ser o tabernáculo da nova aliança e o templo vivo da Divindade, fosse manchada pela mácula do pecado?!… Não, o Altíssimo, antes de escolher para si uma morada sobre a terra, começou, como diz o Salmista, por santificar seu tabernáculo. Maria será essa esposa bem-amada, da qual está escrito no livro dos Cânticos (Cant. IV, 7): “És infinitamente bela, e em ti não há macula alguma”.

Além disto, os teólogos ensinam-nos que nunca criatura alguma recebeu um dom qualquer sem que a Santíssima Virgem o tivesse recebido de antemão; donde se deduz, diz Santo Anselmo, que Deus, conservando puros milhões de anjos no meio da ruína de tantos outros, não podia deixar de preservar da queda comum a Mãe de seu Filho e a rainha dos anjos. Como crer, enfim, que Maria, a nova Eva; Maria, proclamada pelo Espírito Santo “bendita entre todas as mulheres”, fosse menos favorecida que nossa primeira mãe, criada na justiça e na inocência?

A crença na imaculada conceição de Maria não se apoia em outras provas?

Sim, esta crença, justificada aos olhos da razão, como acabamos de ver, é firmada ainda pela Escritura Sagrada e pela Tradição, dupla fonte das verdades de nossa santa fé.

Mostrai como é firmada pela Escritura Sagrada.

Todos os intérpretes, baseando-se sobre a autoridade da Igreja, reconhecem Maria na mulher anunciada a nossos primeiros pais como devendo fazer à serpente sedutora uma guerra irreconciliável e esmagar-lhe a cabeça. Mas, onde estaria a vitória de Maria se, pelo pecado original, tivesse sido, mesmo por um só instante, escrava do demônio?

O Antigo Testamento nos apresenta ainda muitas figuras do glorioso privilégio concedido a Maria, especialmente:

1º A arca de Noé, que não ficou submergida nas ondas impuras do dilúvio, mas salvou-se do naufrágio do mundo.

2º O lírio crescido no meio dos espinhos, de que se fala no livro dos Cânticos.

3º O velo de Gedeão, que fica seco enquanto a terra ao redor ficou inteiramente coberta de orvalho.

4º A piedosa rainha Ester, que é a única isenta da lei de morte, e pôde apresentar-se diante de seu real esposo e advogar a causa de seu povo.

Mostrai que a crença na imaculada conceição de Maria estriba-se na Tradição.

É constante que, em todos os séculos, desde a origem do Cristianismo, houve escritores que falaram da imaculada conceição de Maria. Os Santos Padres que não exprimiram diretamente este privilégio, supuseram-no claramente. Enfim, a Igreja Romana, “mãe e mestra de todas as Igrejas”, considerou sempre como incontestável a doutrina da conceição imaculada da Santíssima Virgem. As orações públicas e particulares, desde muito tempo em uso na Igreja, supõem essa doutrina, que foi proclamada e definida pela autoridade infalível do Papa, correspondendo ao desejo de todo o Episcopado católico.

Em que ocasião o Episcopado católico exprimiu seu desejo de ver definida dogmaticamente a imaculada conceição de Maria?

Por ocasião da encíclica pontifícia de 2 de fevereiro de 1849.

Por esta encíclica, feita em Gaeta, onde estava foragido para fugir das violências da revolução, o papa Pio IX, inculcou aos Bispos que mandassem fazer orações para implorar os socorros do céu sobre o Chefe da Igreja, e perguntou-lhes qual era o seu parecer e o de seus diocesanos acerca da definição dogmática da imaculada conceição de Maria.

543 Cardeais, Arcebispos e Bispos responderam. Todos esses veneráveis prelados foram unânimes em afirmarem que a crença na imaculada conceição existia em suas dioceses; quase todos solicitaram a definição pura e simples do dogma.

É uma verdade de fé católica a imaculada conceição de Maria?

Sim, a conceição imaculada de Maria é uma verdade de fé católica (verdade definida pela Igreja como tendo sido revelada por Deus, e que somos obrigados a crer sob pena de naufragar na fé). No dia 8 de dezembro de 1854, Pio IX decidiu e proclamou, em presença de mais de 200 bispos, que Maria não foi manchada pela culpa original, como foram os demais filhos de Adão.

[…] Bula Ineffabilis:

“Por isso … pela autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e pela nossa, declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina segundo a qual a bem-aventurada Virgem Maria foi, desde o primeiro instante da sua conceição, por uma graça e um privilégio especial de Deus todo-poderoso, em vista dos merecimentos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, preservada e isenta de qualquer mancha da culpa original, é revelada por Deus, e, por conseguinte, deve ser firme e constantemente acreditada por todos os fiéis.

“Por isso, se alguém tivesse a presunção (praza a Deus que tal nunca aconteça) de admitir uma crença contrária à nossa definição, saiba que naufragou na fé e se separou da Igreja.”

Em que dia a Igreja celebra a festa da Imaculada Conceição de Maria?

Anualmente, no dia 8 de dezembro, a Igreja celebra, por uma festa especial, este gloriosíssimo privilégio de Maria.

A origem desta festa não é conhecida, de modo certo; sabe-se, porém, que se celebrava no Oriente desde o século VI e que, no meado do século XII, um decreto dos cônegos de Lião a introduziu na França, donde passou para a maior parte das Igrejas da Itália, Espanha e Alemanha. Uma bula do Papa Sixto IV, publicada em 1476, estendeu esta festa à Igreja universal.


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Maria Sempre!
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FONTE:ALVES, Padre Francisco. Explicação do Pequeno Catecismo de Nossa Senhora, São Paulo, 1915, pp. 48-55.

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Sobre o autor: (...) havendo percorrido todos os capítulos que ele se compõe, sou obrigado a dizer que de tantos livros, que enchem bibliotecas, escritos em louvor da excelsa Rainha do Céu, creio que não há um tão completo como este.

Eduardo, bispo de Uberaba, 1912.

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