sábado, 29 de fevereiro de 2020

DO AMOR QUE DEVEMOS TER A JESUS

O servo - Ó Mãe Santíssima de Deus, quando vivestes com Jesus em Nazaré, não conheciam os homens, senão que o desprezavam e abandonavam. Uma consolação tinha Jesus, entretanto. Era a Consolação de ser sinceramente, ardente e constantemente amado por sua Mãe.

Por isso que conhecíeis sua divindade e perfeições infinitas, Vós o amáveis acima dos anjos e dos Santos, como jamais o amaram estes nem o amarão jamais.

Tinha o vosso amor algo de muito mais excelente que o amor comum das mães. Nele o que vós amáveis era um filho, mas filho-Deus e Homem ao mesmo tempo.

Daí esse imenso desejo de ver o Vosso Jesus tão amado por todas as criaturas racionais quanto o amastes.

Próprio a um amor puro é o procurar comunicar-se e desejar que todas as suas chamas incendeiem todos os corações. Era necessário conhecerem Jesus, qual Vós o conhecíeis, a fim de o amarem com um amor tão perfeito como o vosso. Para falar dignamente desse amor, fora necessário alguém ler em vosso coração o que sentíeis por Aquele que era o seu único objeto. 

Abri-nos, portanto, Vós mesma, esse coração, ó Mãe! Dizei-nos do Vosso Perfeito Amor! Desvendai-nos toda a pureza dele, a sua ternura, a sua vivacidade, a generosidade, enfim, dos sentimentos que animavam o vosso amor a Deus!

Maria - Filho amado, eu nunca fora digna de ser a Mãe de Jesus, se meu amor a ele não houvesse ultrapassado o de todas as criaturas inteligentes. Cada dia aumentava em meu ser esse amor, porque dia a dia nesse Divino filho eu ia descobrindo novas perfeições! Só sentia doçura e felicidade nesse amor. Esse amor, meu filho, era minha vida, o meu repouso, o meu alimento, a minha alegria, as minhas delícias. Vida pobre e obscura era a minha vida em Nazaré! Não obstante, bem paga pelo tesouro que eu possuía na pessoa de Jesus. Só por possuir tamanho bem, é justo que alguém se julgue mais rico que os mais poderosos senhores da terra.

Feliz mil vezes quem viver com amor de Jesus no coração, quem só para ele deixa escapar o seu suspiros!Só o amor de Jesus tranquiliza e satisfaz o coração! Nada pode agradar por muito tempo sem esse amor. Que pode achar de agradável neste mundo quem não provou ainda quanto Jesus é amável?

Quanto mais se ama Jesus mais prazer se sente em amar Aquele que é verdadeira e infinitamente digno de ser amado. Por maiores que sejam as tuas misérias nesta vida, nenhuma miséria equivale a miséria de não amar Jesus! 

Quem não ama Jesus, porventura estudou quem é Jesus? Porventura sabe quanto ele é amável? Jesus reúne em si mesmo todas as perfeições naturais, porém de uma maneira tão eminente que essas perfeições representam a obra-prima do Criador! Jesus reúne em si todas as perfeições da graça, de modo tal que na sua plenitude é que se vão saciar todos os homens!

Jesus reúne em si todas as perfeições de Divindade que nele habita substancialmente. Jesus é poderoso pelo poder de Deus, belo pela pureza de Deus, sábio pela sabedoria de Deus, Santo pela santidade de Deus! 

O servo - Ai! Senhora! Ainda quando não fosse Jesus infinitamente amável por si mesmo, Ele o seria por me haver infinitamente amado! Os seus sofrimentos bastam-me como testemunho desse amor, cujo entendimento está muito acima da nossa pobre razão.

Maria - Acrescenta ainda, meu filho, que a extensão do seu martírio não lhe esgotara o desejo de sofrer que ardia na alma de Jesus.

Nunca diz o amor; "isso basta!" mas de todos os amores o mais ardente e ansioso por se tornar conhecido foi o amor de Jesus! Ele teria dado para tua salvação mais ainda do que o fez, se algo pudesse dar que fosse mais do que Ele próprio!

Ó meu filho, se acha algum objeto mais digno de ter os afetos do que Jesus, Ele consente que tu lhe prestes atenção. Mas, se os merece Ele antes que qualquer outro, acima de qualquer outro, porque o recusares a Jesus?

O Servo - Ai, Senhora Mãe do meu Deus! Como desaparece aos meus olhos tudo que é deste mundo! Não quero mais doravante amar senão a Jesus!

Maria - Quem ama a Jesus, meu filho, despreza em verdade o mais que seja objeto de amor. Nada é o mundo para quem conhece a delícia do amor divino. 

O servo - Todavia, bem entendo que de mim depende possuir a Jesus como amigo. Se não desse o menor valor a tão imensa felicidade, bem merecera eu viver para sempre desgraçado!

Maria - Sim, meu filho. Tão bom será se fizeres objeto único do teu amor aquilo que jamais dê lugar aos lamentos e vacilação; que não estejas sujeito as vicissitudes; que, longe de te ser um dia arrancado pela morte, ao contrário se torne pela morte a tua posse eterna! Ninguém senão Jesus é o amigo fidelíssimo e constante; o que não falta quando os outros amigos abandonam. 

Uma palavra apenas desse amigo basta para trazer consolo a uma alma aflita, enquanto os outros não são mais do que "consoladores importunos"(Jó 16,2).

Que desgosto, que tristeza pode experimentar e que inimigo te poderá ofender se trouxeres o amor de Jesus no coração? Se Jesus reinar no teu coração, aí fazendo seu trono, será o homem mais rico, o mais poderoso, o mais feliz que haja neste mundo. É tal tesouro o amor de Jesus que alguém, ao possuí-lo, pouco caso fará de todos os outros bens. Pois não vês, filho, que poderoso demais é Jesus para contentar além da expectativa um coração que o ame?

O servo - Ó meu Jesus! Ó Deus meu! Pelo amor que vos consagrou Maria, suplico-vos a graça de vos amar, mas de vos amar de tal modo que nada eu ame acima de vós, que nada eu ame tanto como vós, que nada eu ame senão porque vos ame! Não posso tanto quanto o mereceis amar-vos, ó meu Deus! Quero, porém, com o apoio da vossa graça, amar-vos tanto quanto devo, ao menos!

Abrasado quisera eu ser do fogo divino até que por ele me consumisse! Martírio grande é esse de conhecer quanto Jesus é amável e não poder amá-lo na medida em que merece. Martírio grande, sim, que nada poderá mitigar senão o desejo sempre renovado de um mais sublime e ardente amor. 

"Eu vim trazer o fogo à terra, e o que quero eu senão que ela se abrase?"

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Maria Sempre!
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FONTE: Religioso Anônimo. Imitação de Maria. Cultor de livros, 2014. Pg. 207-212.
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Sobre a obra: Imitação de Maria foi escrita por um Cônego Premonstratense da Abadia de Marchtal, na Baviera. O manuscrito, do qual não consta o nome do autor, foi encontrado pelo Cônego Sebastião Sailer, da mesma Abadia, e publicado em 1764. A segunda edição latina apareceu em 1768. Nela declara o Cônego Sailer que juntou várias adições ou ampliações à primeira edição de 1764. Igualmente promete publicar a tradução alemã do livrinho, o que fez em 1769. Novas edições datam de 1772 e de 1787. 
Outra tradução da edição de 1764 apareceu em Colônia em 1773. Uma terceira tradução foi feita por Michael Schullere e publicada por Fred. Pustet em 1876 e em 1881. A tradução francesa apareceu em 1876, a espanhola em 1885, a flamenga em 1896. Nos Estados Unidos foi publicada uma tradução inglesa nos Annals of St. Joseph. No Brasil, a 1ª edição saiu a lume em 1934 e a 3ª, em 1949. 
O título original é: "Kempensis Marianus sive Libellus de Imitatione Mariae Virginis et Matris Dei". 
Cônego Guilherme  Adriaansen, O. Prem.

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