sábado, 7 de novembro de 2020

A EDUCAÇÃO DO SENSO RELIGIOSO PARA CRIANÇAS - A MORTE



Entramos no mês de novembro, mês especialmente dedicado as santas almas do purgatório.

A morte, o morrer e os mortos são coisas que, na maioria das vezes, tentamos manter longe, muito longe de nossos filhos.

Então, qual seria a forma mais correta de orientar as nossas crianças sobre a morte?

Vejamos o que o Pe. G. Courtois nos instrui sobre este assunto em seu livro "A arte de educar as crianças de hoje":

Um ponto em que é fácil formar o espírito religioso da criança é o do mistério da morte: em vez de apresentar-lhe a morte como um poço negro e fatal em que toda a humanidade vem cair, por que não lhe fazer compreender que a morte não é um fim, mas um começo e, como diz a Igreja, o nascimento para uma vida nova incomparavelmente bela, boa, feliz e eterna; que o “não sei quê” do túmulo nada tem que deva perturbar, uma vez que é apenas um invólucro material que a alma, sempre viva, repele como a borboleta repele a crisálida de que se serve para se lançar no azul primaveril; que somente os maus devem temer o Além, que os bons só podem desejá-lo?

A excelente revista L’anneau d'Or interrogou um dia os seus leitores: “Como ajudar as crianças a fazer a descoberta da morte?” Dentre as respostas recebidas, destacamos estas duas experiências:

A propósito da criança diante da morte, eis a experiência de minha infância, pelo menos no que concerne ao fato material da presença dos mortos. Todos o retardam indefinidamente sob o pretexto de não impressionar as crianças. A meu ver é um erro: o choque será muito mais violento quando o primeiro morto que elas virem for um ente querido.

"Quando ainda éramos muito crianças, entre 6 a 7 anos, mamãe não hesitava em levar-nos para junto de alguém de suas relações que acabara de morrer e que nós, crianças, mal conhecíamos. Ela o fazia com toda a naturalidade: “O Sr. X. acaba de morrer. Sua alma está junto ao Bom Deus, ou talvez ainda no Purgatório. Vamos rezar perto do seu corpo, por ele e por sua família que está sofrendo.” E mamãe evitava acrescentar: “Não tens medo, não é verdade?” Ou outra sugestão inábil do mesmo gênero. De modo que bem cedo fomos habituados a olhar sem o menor receio, adormecidos na morte rostos que havíamos conhecido vivos. De volta, mamãe aproveitava a ocasião para falar-nos sobre a vida e a morte de um cristão, de uma maneira muito simples, a propósito daquele que acabávamos de ver: ela nos contava como havia vivido e como se preparara para morrer. Fazíamos perguntas de crianças às quais ela nos respondia tranquilamente. Mais tarde, quando Deus chamou para Si nossas avós, depois uma irmã e um irmão ternamente amados, nossa dor, embora grande, não se complicou com o terror nervoso que vi certos adultos sentirem nessas ocasiões."

"Mônica (7 anos) vai ser operada de apendicite. Eu queria que se, por acaso, ela morresse, sua morte fosse aceita. Disse-lhe:
— E que dizes, Mônica, se morresses na tua operação?
— Ora, eu estaria desmaiada (anestesiada), não pensaria em nada! E será que acabariam a operação se eu morresse no começo?
— Não, não valeria mais a pena.
— Oh, mas seria feio!
— Ora, te poriam um penso. Mas, dize, se morresses?
De repente, o rosto de Mônica se ilumina, ela imagina bem as coisas:
— Mas, mamãe, se eu morresse não seria nada mau, eu iria para o Céu!"
Disse isto com entusiasmo e num tom alegre. Em seguida, tomada de uma humildade sincera, inimitável, que fazia lembrar as palavras: “Se não vos tornardes semelhantes a esses pequeninos...” acrescentou com timidez: “Quer dizer... se Deus não achar que tenho muitos pecados!” Depois, retomando toda a sua segurança: "Mas, certamente, irei direta ao Céu se morrer na operação, porque não seria por minha culpa. Se foi o Bom Deus que me fez vir aqui, Ele me levará Consigo."
E ao fim de um instante, pois tudo isto se passa enquanto se prepara o jantar: “Sim, seria bom ir para o Céu, mas penso que gostaria de ficar ainda um pouco contigo, mamãe... Mas, será como Deus quiser.”
E com essas palavras, ela vai aos pulos acabar de por os pratos."

***
Maria Sempre!
***
FONTE: COURTOIS, Pe Gaston. A arte de educar as crianças de hoje. Livraria Agir Editora, 5ª ed., 1964, p. 103-105.
______________________________________________________________________________

Sobre a obra:  Este livrinho deve mais ainda à observação do comportamento dos pais relativamente aos filhos, à verificação de múltiplos erros de que os filhos, e também os pais, são vítimas frequentes. Este livro se apresenta, pois, sob a forma de pequenos conselhos, cujo mérito outro não é senão o de terem sido experimentados positiva e negativamente por numerosas famílias pertencentes aos mais diversos meios.
Pe. G.Courtois 

Nenhum comentário:

Postar um comentário