Porque, assim como de nós, que nada somos , não se pode esperar senão quedas, pelo que devemos sempre desconfiar de nossas forças, em contrapartida devemos sempre confiar no socorro e assistência divina para obter grandes vitórias sobre nossos inimigos.
Também essa excelente virtude pode ser obtida de quatro modos:
O primeiro é pedi-la com humildade ao Senhor.
O segundo, considerar e ver com os olhos da fé a onipotência e sabedoria infinita daquele Ser soberano, a quem nada é impossível ou difícil (Lc 1,37) e que, por pura bondade e por seu infinito amor por nós, mostra-se pronto e disposto a conceder-nos a cada momento o que é preciso para a vida espiritual e para a inteira vitória sobre nós mesmos, se nos refugiamos em seus braços com filial confiança.
Este doce e gentil pastor, que por 33 anos correu atrás da ovelha perdida e sem rumo, chamando-a até perder a voz e ferindo-se nos espinhos até derramar todo o seu sangue para trazê-la de volta dos despenhadeiros e veredas perigosas para um caminho santo e seguro, da perdição à saúde, da ferida ao remédio, da morte à vida, como poderia ficar indiferente à ovelha que o segue na obediência aos seus santos preceitos, ou que ao menos tem o desejo sincero (ainda que imperfeito e fraco) de o fazer? Ele que, com tanto ardor e diligência, buscou a dracma perdida do evangelho, que é a figura do pecador, como poderia abandonar a quem, triste e aflito por não ver o seu pastor, o busca e o chama?
O terceiro meio para adquirir essa santa confiança é recordar verdades e oráculos infalíveis da Sagrada Escritura, que asseguram que os que esperam e confiam em Deus não serão jamais confundidos.
O quarto e último meio, que permite adquirir ao mesmo tempo a desconfiança de si e a confiança em Deus, consiste em, antes de começar qualquer coisa, seja uma boa obra ou o combate a uma paixão, ter em mente a própria fraqueza e invocar o poder, a sabedoria e a bondade infinita de Deus, determinando-se então a combater generosamente. Com essas armas, unidas à oração, serás capaz de realizar grandes feitos e vitórias.
Se, porém, não observares essa regra, ainda que pareças animada de uma verdadeira confiança em Deus, estarás enganada, porque é tão natural ao homem a própria presença, que insensivelmente se confundem a confiança que ele imagina ter em Deus e a confiança que, na verdade, tem em si mesmo.
Para te livrares dessa presunção, minha filha, e trabalhares sempre as duas virtudes que se opõem a este vicio, é necessário que a consideração da tua fraqueza ande junto com da onipotência divina.
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